O professor Fabio nos conta essa história! ⤳ CLICK
FLICTS
Ziraldo Alves Pinto
Era uma
vez uma cor muito rara e muito triste que se chamava Flicts.
Não tinha
a força do Vermelho, não tinha a imensa luz do Amarelo, nem a paz que o Azul tem.
Era
apenas o frágil e feio e aflito Flicts.
Tudo no
mundo tem uma cor, tudo no mundo é Azul, Cor de rosa ou Furta cor, é Vermelho
ou Amarelo, Roxo, Violeta ou Lilás. Mas não existe nada no mundo que seja
Flicts.
-Nem a
sua solidão-
Flicts
nunca teve par. Nunca teve seu lugar num espaço bicolor (e tricolor muito menos
– pois três sempre foi demais).
Não.
Não existe no mundo nada que seja Flicts.
Não existe no mundo nada que seja Flicts.
Na
escola, a caixa de lápis de cor, cheia de lápis de colorir paisagem, casinha e
cerca e telhado, árvore, flor e caminho, laço, ciranda e fita.
Não tem
lugar para Flicts.
Quando
volta a primavera e o parque todo e o jardim todo se cobrem de flores de
todas as cores. Nem uma cor ou ninguém quer brincar com o pobre Flicts.
Um dia
ele viu no céu, depois de uma chuva Cinzenta, a turma toda feliz saindo para o
recreio e se chegou pra brincar:
“Deixa eu
ficar na Berlinda? Deixa eu ser a cabra-cega? Deixa eu ficar no pique? Deixa eu
ser o cavalinho? ”
Mas
ninguém olhou para ele. Só disseram frases curtas, cada um por sua vez:
“Sete é
um número tão bonito” disse o vermelho Vermelho.
“Vai se
olhar no espelho” disse o Amarelo.
“Somos
uma grande família” disse o Verde.
“Temos um
nome a zelar” disse o Azul.
“Não
quebre uma tradição” disse claro o Azul anil.
“Por
favor, não queira mudar a ordem natural das coisas” disse o violento Violeta.
E as sete
cores se deram a mão e à roda voltaram e voltaram a girar.
E mais
uma vez deixaram o frágil, feio e aflito Flicts na sua branca solidão.
Mas
Flicts não se emendava (e porque se emendar? Não era bom viver tão só). E saiu
a procura de um emprego para fazer a salvação no trabalho.
“Será que
eu não posse ter um cantinho ou uma faixa, em escudo ou brasão? Em bandeira ou
estandarte?”
“Não há
vagas” falou o Azul.
“Não há
vagas “sussurrou o Branco.
“Não há
vagas “ berrou o Vermelho.
Mas
existem mil bandeiras, trabalho pra tanta cor. E Flicts correu o mundo a
procura do seu lugar. E Flicts correu o mundo…
Pelas
terras mais antigas. Mas nem mesmo nas terras mais novas, nem as bandeiras
novas e as bandeiras todas que ainda serão criadas se lembraram de Flicts, ou
pensaram em Flicts para ser a sua cor, não tinham para ele nem um lugar em uma
estrela, uma faixa ou uma inscrição.
Nada no
mundo é Flicts ou ao menos quer ser.
O céu por
exemplo é Azul e todo do Azul é o mar.
“Mas quem
sabe o mar?” Quem sabe-pensa Flicts agitado.
“O mar é
tão inconstante”
“É
cinzento se o dia é cinzento, como um imenso lago de chumbo”
“E muda
com o Sol ou com a chuva, negro, salgado ou vermelho”
O mar é
tão inconstante, tantas cores tem o mar, mas para o pobre do Flicts suas cores
não dão lugar.
E o pobre
Flicts procura alguém para ser seu par, um companheiro, um irmão, um amigo
complementar.
Em cada
praça ou jardim, em cada rua ou esquina pergunta:
“Posso
ser seu amigo?”
“Não- lhe
diz o vermelho.
“Espera“
amarelo diz.
“Vá
embora” manda o verde.
Um dia Flicts parou e parou de procurar.
Olhou
para longe, bem longe. E foi subindo e subindo. E foi subindo e sumindo. E foi
sumindo e sumindo. E foi sumindo e sumiu.
Sumiu que
o olhar mais agudo não podia adivinhar para onde que tinha ido. Para onde tinha
se escondido. Em que lugar se escondera o frágil, feio e aflito Flicts.
E hoje
com dia claro, mesmo com o Sol muito alto, quando a Lua vem brigar com o brilho
do Sol, a Lua é Azul.
Quando a
Lua aparece - no fim da tardes de outono - do outro lado do mar, como uma
bola de fogo, ela é redonda e Vermelha.
E nas
noites muito claras, quando o céu e só dela, a Lua é ouro e prata, grande bola
Amarela.
Mas ninguém sabe a verdade (a não ser os astronautas) que de perto, de pertinho
a Lua é Flicts.
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